Lauro Borges – Professor estadual em Jaguarão
Quando
nos aproximamos de mais um aniversário do golpe civil-militar que
implantou uma ditadura de 21 anos em nosso país e quando esta data
se passa em um momento delicado de nossa frágil democracia,
inclusive com muitas pessoas nas ruas pedindo “intervenção
militar constitucional” (algo que não existe), é mais do que
necessário discutir sobre os feitos e os efeitos dessa ditadura.
Nunca é
demais lembrar dos mais de trezentos mortos e desaparecidos
políticos, das milhares de pessoas exiladas, presas arbitrariamente
e torturadas nos inúmeros centros clandestinos existentes em nosso
país e também em nossos vizinhos latino-americanos, através da
cruel Operação Condor.
Também
não podemos deixar de mencionar as diversas heranças deixadas pelos
militares e seus colaboradores, como a enorme dívida externa que
contraíram para bancar projetos megalomaníacos e ineficazes (como a
Transamazônica), a corrupção que envolvia várias lideranças do
governo e empresários amigos, como denunciado cada vez mais por
inúmeros historiadores e estudiosos do tema, a desigualdade social
que aumentou ferozmente naqueles anos e, entre outros, o processo de
sucateamento do ensino, tanto em sua infraestrutura quanto,
principalmente, em seu projeto pedagógico. Centenas de professores
aposentados à força nas universidades e escolas públicas do país,
a proibição de disciplinas como Sociologia e Filosofia e a censura
sobre os temas abordados em História e Geografia e também a
desvalorização profissional dos educadores são alguns dos exemplos
da tragédia que foram os “anos de chumbo” no Brasil.
Porém,
tão cruel quanto este passado de horrores e arbitrariedades, é a
forma como tratamos disto desde que retornamos à democracia. Fruto
de uma lei gestada durante o período final da ditadura (1979), a
Anistia conquistada a duras penas foi deturpada pelos generais, que
aproveitaram a demanda popular pela volta dos exilados e presos
políticos e trataram de salvar a própria pele, considerando como
parte do jogo a tortura e os assassinatos praticados pelo Estado
brasileiro.
Assim,
nestes 30 anos de retorno à democracia no país, um fantasma nos
ronda permanentemente, nos cobrando um acerto de contas que ainda
está por ser feito. Não, o esquecimento não é uma alternativa!
Quem afirma que o que passou, passou e o importante é viver o
futuro, mente ou se engana. Daquilo que fazemos no presente depende
nosso futuro, assim é na vida pessoal, assim é na vida de um povo.
Por isso,
é tão importante neste momento resgatar aquilo que nossos irmãos
latino-americanos que foram vítimas do mesmo processo que nós,
estão fazendo para lidar com suas feridas. Na Argentina, no Uruguai
e no Chile, por exemplo, estão em curso ações para responsabilizar
os culpados e vários deles estão sendo processados ou já estão na
cadeia.
No
Brasil, mesmo pequenos mas importantes passos, como a Comissão
Nacional da Verdade, sofrem com o bombardeio daqueles que não tem
interesse de que nada se resolva e principalmente, com o esquecimento
daqueles que são a principal vítima de uma ditadura: nós, o povo.
E
enquanto assim for, não estaremos livres de presenciar o verdadeiro
show de horrores como aqueles assistidos durante recentes
manifestações no país, pedindo golpe militar para resolver
problemas que foram imensamente agravados durante a ... ditadura
militar!
Conheçamos
nossa história, para que nunca mais nossas consciências sejam
violentadas, para que nunca mais um assassino conhecido por
“Carlinhos Metralha” seja abraçado por jovens, como aconteceu em
São Paulo no último dia 15 de março. Jovens quase da mesma idade
daqueles que o abraçaram foram torturados e mortos por ele na
ditadura.
“Para
que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”!