Não
sei precisar o dia e o mês, mas sei que foi pouco antes de junho de
1974, quando com oito anos incompletos entrei pela primeira vez
naquele amplo teatro, que nunca havia imaginado existir na minha
cidade. Fui com minha escola, na época o Grupo Escolar Joaquim
Caetano da Silva assistir apresentações das turmas, com a
professora Isolda Perez. No palco algumas apresentações
homenageando a seleção brasileira que estava pra disputar a copa de
1974. Assistia tudo encantado, não sei se com as apresentações ou
com a imensidão daquele prédio. Meu irmão mais velho com nove anos
apresentava-se no palco em um jogral, o que me fez pensar: eu também
quero me apresentar ali. Mas, naquele palco, levou um bom tempo pra
que isso se concretizasse, quando em 1992 lá estava eu me
apresentando numa peça de teatro, e depois em 1995 ganhando a fase
regional de Teatro Amador do RS. Lembro que, naquele palco, olhando
aquela plateia, me lembrei de meus oito anos (coisa que já havia, ou
pensei, ter deixado pra trás). A novidade já não era tão imensa
como quando temos oito anos de idade, mas era uma situação que me
trazia felicidade.
Quando
me deparei com a obra “Olhares de Jaguarão” de Eduardo Alvares
de S. Soares e Sergio da Costa Franco (2010), um mundo de minha
cidade se abria ali, onde pude ir comparando com o que “diziam”
os livros e cadernos escolares. Mas, aqui neste momento, me deterei
num relato de Vilmar José Silveira de Lima, da obra referida, do
inicio dos anos de 1950, que me fez relembrar aquela minha passagem
citada, do início dos anos 1970, momento em que pela primeira vez
entrei em contato com o Teatro Esperança.
“Mas
ir ao amplo Cine Teatro Esperança, em Jaguarão, era um
acontecimento social pelo desfile de elegância das famílias e
casais como fecho e ponto alto de cada semana. Em seu palco tive a
honra de participar de peça teatral encenada com alunos da escola
primária que eu cursava, o Grupo Escolar Joaquim Caetano da Silva.”
(Franco e Soares, 2010, p.135)
Estas
e outras memórias é que fazem este teatro ser considerado
Patrimônio da cidade, e lembrado sempre que é perguntado sobre que
bens poderiam representar a cidade de Jaguarão. Vejamos que o
patrimônio acaba se tornando uma prática de memória obedecendo a
um projeto de afirmação de si mesma, conforme o antropólogo Joel
Candau. Aqui, a memória de minha cidade, a memória de seu teatro,
que é um efetivo lugar de memória.
Edição de 30/09/2015 Ano VI nº 232