Por
Magnum Patrón Sória
Dos
moirões antigos da casa grande ou das pedras crespas das senzalas,
surgem elas, como serpentes esgueiradas ou pautas sonoras, ribombando
os tantos mandados que por elas exibem suas forças e balbuciam as
tormentas vindas de más allá! As cercas!
Demarcam
a fronteira entre o é e o devir, entre o está e o já foi, entre o
que tem com o que perdeu ou nem teve tempo de compreender! Nelas
paixões fugidias entre maragatos e chimangos, entre as negras e os
restos indígenas que ainda haviam nestas bandas do Jaguarú Grande!
Fim da linha para os brancos em guerra, possessos de posse! Algumas
marcam ainda os ideais de liberdade privada, outras guarnecem os
fétidos e obscuros tenebrosos momentos de roubos e soberbas. Formam
varais na campanha, brincadeira de guri, alívio das coceiras dos
cavalos e vacas! Tornam-se apoio do descanso das bergamotas do
pós-almoço charrua! Aliviam heranças e mantém patrimônios e
quando atravessadas, matrimônios ou traições e infortúnios,
depende do passo que te dão. Na fronteira dos idos, no presente dos
vetos. Testemunharam a força das sesmarias, dos governos nos campos
neutrais, das coroas endoidecidas de uma época confusa, não mui
diferente de hoje! E aqueles que te fizeram... guapos e teimosos!
Homens de dor, de feridas sangrentas, alimentados pelo sol escaldante
de janeiro ou de geadas no bruto frio destes meridianos.
Quantos
amores ficaram gravados nas tábuas que te mantém aramada! Que
corações empedrados ainda assombram as antigas senzalas, ou
iluminam potes de moedas antigas nas noites de lua cheia, ou emudecem
uma cultura calada pela segregação, ou trazem os fantasmas das
noivas que perderam seus alambradores! Velhas cercas da fronteira!
Moirões apodrecidos! Arames ferrugentos. Contem as histórias desta
gente mesclada, deste povo valente, que foge da mesmidade do pampa.
Abram as porteiras do esquecido e embretem as ilusões que anestesiam
os viventes da realidade. Sejam mais como as cercas das casas das
cidades: onde a vizinhança se faz mais próxima, onde há lugar para
o prato das sobras para os que não tem nem migalhas. E assim,
solidariedade e humanidade serão teus alambrados e tuas tábuas, os
piques de vida feliz.
Edição de 06/08/2015 Ano VI nº 224
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