Cheguei um pouco mais
cedo na escola do meu filho e fiquei observando os alunos das
primeiras, segundas e terceiras séries se despedindo da profe, como
eles dizem. Todos ao alcance da maestra fazem questão de dar e ou
receber um beijo.
A professora se curva, para cada um deles, enquanto
fala alguma coisa com alguma colega, funcionário, pai ou mãe de
aluno, aquela gritaria de fim de aula, aquele momento tão vital que
conhecemos bem. Os alunos se penduram do pescoço dela e trocam
aquele último contato, aquele beijo rotineiro e carinhoso, dando e
recebendo o mesmo amor e dedicação que aquela pessoa deu pra eles
durante toda a tarde, entre leituras, brincadeiras e puxões de
orelhas apenas com o olhar, o mesmo que seus pais dariam, em suas
casas. As crianças saem carregando suas mochilas e casacos que
arrastam suas mangas pelo chão. Satisfeitos, com bochechas rosadas,
suados, exaustos. E as professoras continuam o ritual, dando atenção
a cada um deles, ensinando, preparando-os para a vida.
Chegando em
casa, fico imaginando, as professoras continuam educando e
trabalhando, preparam café para seus filhos, sobrinhos, amigos,
vizinhos, e põem as tarefas domésticas em dia, imagino eu,
relaciono seus salários e imagino que devem ter uma vida simples,
típica das trivialidades do dia a dia, sem regalias de madame.
Preparam janta, continuam espalhando amor aos seus, enquanto aquelas
crianças beijadas no final do dia também, voltam para os braços de
seus tutores e a noite cai e o soninho começa a chegar. Nesse
momento a professora dá seu último beijo. O mesmo que deu lá pelas
cinco da tarde, ela abençoa seus anjos, ao acobertar suas crianças
vira mais uma página da digna e bela vida que escolheu, embora, por
vezes sofrida, sabe que é uma dádiva poder compartilhar esse gesto
com gerações e gerações, entrando em nossas famílias e deixando
suas marcas pra sempre na vida de nossos anjinhos.
A cidade dorme, os
anjinhos sonham, alimentados, beijados. A cidade dorme e o beijo da
professora deixa aquelas bochechas carimbadas de um pouco e tanto de
amor, aquele mesmo amor da dedicação contínua, diária, que
perdura, que desenha através dos anos a evolução daquelas
pessoinhas que amanhã estarão levando seus próprios filhos à
escola. O beijo da professora descansa, em cada criança, em cada
aluno. A cidade dorme, a professora terá que ir mais tarde pra cama,
ainda tem que corrigir temas e provas, no outro dia tudo tem que
estar bem, há exercícios para preparar, brincadeiras, leituras,
mais um dia passará, desde a hora do reencontro, do sino até as
cinco e pouco, hora do beijo das professoras.
Edição de 13/05/2015 Ano VI nº 212
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