Por Andréa Lima
No
domingo assisti a um programa em um canal, que aborda temas sobre o
meio ambiente, e vi uma reportagem sobre o uso de venenos agrícolas,
onde se falava sobre o Brasil ser o maior consumidor de agrotóxicos
do mundo. Peraí, é isso mesmo, estamos ouvindo bem. Embora o dado
não seja novo, pois desde 2008 ocupamos esta posição, penso que
não demos, ainda, a devida importância a ele. Estamos consumindo,
todos os dias, veneno pra caramba!
Está
em nossa mesa, afetando diariamente a nossa saúde, nos legumes e
hortaliças, nas frutas que comemos e damos para nossas crianças, na
expectativa de ter uma alimentação de qualidade. Também atinge
muitas fontes de água e desequilibra a fauna e a flora, com a
extinção de diversas espécies e a proliferação de doenças,
sobre as quais ainda sabemos pouco.
Apenas
para ilustrar a gravidade do problema, vamos para os dados.
O Brasil se destaca
como o maior consumidor mundial de agrotóxicos, seguido pelos
Estados Unidos, de acordo com um estudo da Universidade de Oxford. Em
oito anos, a quantidade utilizada por área plantada no Brasil mais
do que dobrou, passando de 70 kg por hectare em 1992 para mais de 150
kg por hectare em 2010, segundo o relatório “Indicadores de
Desenvolvimento Sustentável – Brasil 2012”, do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Estes dados estão
diretamente associados à alta produtividade e a importância do
agronegócio em nossas terras, que também são muito marcadas pelo
monocultivo. Somos líderes mundiais na produção de cana de açúcar,
laranja, café, entre outras, e o segundo lugar na produção de
soja, onde nosso Estado se destaca e Jaguarão tem um papel
importante. O pimentão está no topo da lista dos alimentos mais
atingidos pelos compostos químicos e mais de 90% de sua produção
apresenta taxas de contaminação inadequadas para o consumo, de
acordo com a Anvisa.
Outro problema que
nos atinge é a precariedade na fiscalização. Embora o uso de
agrotóxicos seja regulado principalmente pela Lei nº 7802/89, que
rege o processo de registro de um produto agrotóxico, regulamentada
pelo Decreto nº 4074/02, não temos condições de monitorar o uso
adequado e de controlar e avaliar, realmente, os impactos na saúde.
Também nos deparamos com a necessidade de revisão da permissão de
entrada de alguns produtos no mercado, por conta da toxicidade de
algumas substâncias, que já foram proibidas em diversos países em
função de danos ambientais, sociais, econômicos, mas que ainda são
permitidas no Brasil.
Não quero, aqui,
mostrar apenas um lado da moeda, pois se trata de um debate complexo,
com muitas questões que devem ser levadas em conta, quando se trata
da produção de alimentos em larga escala. Mas não me agrada nem um
pouco pensar que eu e você, leitor, consumimos, em média, 5, 2
litros de veneno por ano.
Precisamos dar
passos mais firmes em direção ao fomento de pesquisas na área do
plantio, no desenvolvimento da Agroecologia e dos incentivos à
agricultura familiar. Devemos, também, repensar as decisões
políticas que o nosso país adota, já que muitas campanhas são,
ainda, financiadas pelo empresariado do alto escalão do agronegócio.
Talvez, assim, seja possível descortinar o véu que nos leva sempre
a seguir o mesmo caminho, quando podemos radicalizar e ousar lutar
por um mundo com menos poluentes. Do contrário, conforme anuncia o
saber popular, “quando a última árvore for cortada, quando o
último rio for poluído, quando o último peixe for pescado, veremos
que dinheiro não se come”
Edição de
11/02/2015 Ano IV nº200