Jaguarão sobrevive
a magia do Carnaval de Rua como poucas cidades sobreviveram seus
entrudos. Ainda, com o confinamento da corda dos Trios Elétricos, ao
estilo Bahia, e a extinção dos bailes de Clubes Sociais, a maior
festa popular do Brasil, na cidade heróica, mantém seus foliões
sambando ao som da madrugada e batendo pé nos velhos paralelepípedos
da cidade. Ainda dá para lembrar dos Reboques, da inocência do
Lança Perfume, e das Rainhas das instituições sociais visitando
num tour de alegorias e sorrisos, os clubes, nos bairros e na cidade
vizinha do outro lado da ponte.
Me lembro da invasão dos blocos
burlescos, de acompanhar a Rainha do Clube Harmonia até em casa, e
da festa derradeira do enterro dos ossos. De figuras típicas que
hoje não estão mais, e mesmo assim são recordadas e representadas
em nossos corações como se sempre estivessem aqui, e estão.
Pompílio, Mocinha, entre outras personalidades que enriqueceram
ainda mais a bela história do Carnaval Jaguarense. E mesmo com essa
nostalgia e as andanças da modernidade, o carnaval de Jaguarão
continuou com um espírito invejável e pouco difícil de transmitir.
Só indo, sentindo, vivendo, e respirando o ar que entorna aquela
semana alucinante em que se transforma a nossa cidade.
Crescemos e
como crescemos. Mesmo assim, quase perdendo nossa principal
identidade, a identidade familiar da dança das ruas e dos encontros
e desencontros de amigos e novos amigos, resistimos à poluição e à
capacidade de carga das massas turísticas que hoje invadem a nossa
querida Jaguarão. É maravilhoso ver centenas de turistas pulando e
tomando para si aquilo que sempre veneramos e nos enche de orgulho. É
lindo ver a nossa cidade com os hotéis, pousadas, casas e comércios
repletos de felicidade turística, afinal, somos conhecidos por
sermos ótimos anfitriões, adoramos trazer novas parcerias para
vangloriarmos com o charme da nossa bela cidade, ou não? Tenho
certeza que o leitor jaguarense esteja concordando com tudo que leu
até aqui, mas uma coisa há de se alertar, o Carnaval já chegou ao
seu ponto máximo de crescimento. Justamente o glamour desse Carnaval
é a festa entre os Jaguarenses e turistas, amigos, foliões em
geral, mas há de convir, que nos últimos anos muita gente invadiu
nossa cidade e o Carnaval ofuscou essa identidade tão genuína e
própria das pequenas cidades. Já não há muito espaço, nem para
desfilar, nem para aproveitar o lado pacato e familiar que a cidade
sempre nos propôs. A ganância, e o crescimento desenfreado, deixam
o Jaguarense à margem da diversão, e mesmo com a ótima organização
da Prefeitura, há problemas com a infra estrutura.
Tive a sorte de
estudar Turismo e Meio Ambiente e o maior legado que levei dessa
faculdade e pós-graduação, foi justamente sobre esses pontos que
cito aqui. As autoridades do urbanismo, assim como os agentes
culturais, e organizadores dos Trios devem chegar a um acordo e a um
limite dessas capacidades, da mesma forma a comunidade têm que ser
incluída nessas decisões, afinal, é a cidade que sofre o impacto,
logo, os turistas vão embora, e quem sofre as consequências desse
impacto é a população e a estrutura física e arquitetônica da
cidade. Não é querer jogar balde de água fria, muito pelo
contrário, qualquer atividade cultural deve primeiramente trazer
aprendizados para os envolvidos, diversão, quando trata-se de uma
festa popular, lucro e desenvolvimento para a cidade, mas tudo sem
depredar o meio ambiente e muito menos a própria magia do Carnaval.
Ouviu-se falar, noutras recentes edições, que muitos turistas não
voltariam mais para Jaguarão por causa dessa intoxicação e
poluição turística, onde faltavam banheiros, policiamento, ou
outras estruturas básicas para um evento desse porte. Os mais
influenciados, críticos de sofá, culparam a administração
pública, esquecendo que, há também um limite de recursos tanto
financeiros como pessoais para organizar e dar subsídios
operacionais para o mesmo. Contudo deixo minha mensagem crítica e
como um alerta para invasões em massa. Falando com um e outro, sei
que esses fenômenos já são notados pelos populares há mais de
três anos, por outro lado há pessoas que perderam esse amor por
aquilo que era nosso, que nos pertencia e hoje está se distanciando
por causa da comercialização do mesmo. Espero que a conscientização
popular leve isso a sério para os próximos anos e que o Carnaval de
Jaguarão mantenha-se lindo, seguro, mágico, e quão espetacular
como sempre foi.
A todos um Carnaval de muita paz e alegria, com
segurança em todos os aspectos e como disse um nordestino certa vez
que mandou um recado para o bloco dos Batukayanos "pulem que nem
pipoca, mas não se queimem"...axé!
Edição de 11/02/2015 Ano IV nº200
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