O Patrimônio cultural,
de forma simples, pode ser definido como um conjunto de bens ou
valores, materiais ou imateriais, repassados de geração em geração,
na trajetória de uma comunidade. É aquilo que faz sentido e por
isso preservamos, de diferentes maneiras, nos identificamos e
construímos relações simbólicas e de afetividade.
Pode ser o tradicional
patrimônio edificado, de ”pedra e cal”, mas também abarca uma
série de outras manifestações. São patrimônios os saberes e
fazeres, como as receitas do tempo das nossas avós, algumas festas e
celebrações, expressões, e também podem ser os lugares.
Jaguarão é uma cidade
repleta de repertórios patrimoniais, basta andar por suas ruas para
saber. Por conta de sua história e dos sítios preservados, é
considerada Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, tombada
pela União.
Nas leituras e olhares
sobre a cidade, durante muito tempo privilegiou-se seu passado
militar, os contornos portugueses e espanhóis, os referenciais
euro-ocidentais.
Enquanto determinados
passados foram revolvidos e elevados à esfera patrimonial, outros
tantos foram silenciados. Durante muito tempo, por aqui pouco se
falou, por exemplo, da história, memória e das diversas expressões
da cultura negra, apesar de sua importância para a cidade.
Esta situação começa
aos poucos a mudar com o tombamento do Clube Social 24 de Agosto. Nem
todo mundo sabe, mas o 24, que também é Ponto de Cultura, foi o
primeiro clube negro a ser reconhecido como Patrimônio Histórico do
Rio Grande do Sul, o que se deu no ano de 2012.
O pedido de proteção
do local como patrimônio cultural aconteceu diante da ameaça de
perda da sede, que foi a leilão a partir de um processo muito
questionável junto ao ECAD (Escritório Central de Arreacadação e
Distribuição), que é um órgão responsável pelos Direitos
Autorais.
A mobilização partiu
da própria comunidade que, literalmente, abraçou o prédio, para
poder preservá-lo como palco de tantas histórias.
O clube 24 foi formado
no ano de 1918, por um grupo de amigos que fundaram a entidade
visando a criação de um espaço de sociabilidade para a comunidade
negra de Jaguarão. Neste período, como resquício de uma sociedade
escravocrata e impregnada pelo racismo, eles eram impedidos de
freqüentar, em função de sua cor, outros clubes sociais da cidade.
Ao invés de se
resignar, esta comunidade construiu seu próprio espaço e, com o
tempo, abriu as portas para todos, protagonizando os chamados “bailes
da integração”, junto ao saudoso Clube Caixeiral.
Hoje, além das
tradicionais festas, o Clube 24 desenvolve uma série de outras
atividades, como ações afirmativas, do campo da educação e da
cidadania cultural. Parabéns pelos seus 97 anos!
Minha singela homenagem
em nome de seu Presidente, o seu Neir Madruga, e os sinceros
agradecimentos por todos os aprendizados proporcionados neste espaço!
Vida longa!
Edição de 26/08/2015 Ano VI nº 227
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