Por Andréa Lima
Se tem um debate que
precisa ser levado adiante em nosso país e que requer avanços na
legislação é o da regulamentação do uso da planta cannabis
sativa, a famigerada maconha.
Diversos países já
assumiram o compromisso de chamar para o Estado o seu controle,
inclusive nosso vizinho, o Uruguai, mas o Brasil, pautado pelas
bancadas conservadoras, ainda anda a passos de tartaruga no tocante a
este tema.
Embora a grande mídia
manipule as informações e forme a opinião pública para se
posicionar radicalmente contra, basta trazermos à tona alguns dados
e questões, para logo compreendermos o quanto seria vantajoso
legalizar o uso da planta, seja de forma recreativa ou medicinal, até
a aplicação do cânhamo na esfera industrial.
Ao proibir,
alimentamos, hoje, o narcotráfico, pois é fato que existe um
mercado consumidor e, francamente, conseguir a droga parece ser mais
fácil que pão. A maconha é a terceira substância psicoativa mais
consumida do planeta, perdendo, apenas, para o ácool e o tabaco e,
segundo a ONU, cerca de 5% da população mundial recorre ao mercado
ilegal para consumir drogas.
Se, por aqui, ousarmos
regulamentar, ao invés de deixarmos como está, nas mãos dos
traficantes, teremos uma grande economia, a começar pela redução
dos gastos com a guerra às drogas e a repressão.
Atualmente, em torno de
27% dos presos no Brasil respondem pelo crime de tráfico e, entre
estes, muitos foram pegos apenas pelo porte da droga para consumo
próprio, sem antecedentes criminais.
Os gastos anuais apenas
com esse tipo de detenção giram em torno de 1,3 bilhão de reais.
Será que estes recursos não seriam melhor investidos em políticas
de educação, saúde e prevenção?
Tratando, em
específico, dos possíveis riscos da maconha para os usuários,
podemos compará-la com o álcool e o fumo então, que são liberados
e amplamente consumidos.
Custos relacionados com
a saúde dos consumidores de álcool são oito vezes maiores que os
relacionados aos consumidores de maconha. São inúmeras as pesquisas
que demonstram que o álcool representa muito mais – e mais graves
– problemas de saúde do que a cannabis, que pode ser usada, ainda,
com fins medicinais.
Remédios produzidos
à base da planta são atualmente aplicados em pacientes que sofrem
de doenças como esclerose, fibromialgia, HIV- Aids, glaucoma,
epilepsia e uma série de distúrbios. Ela também é utilizada em
pessoas com câncer, para que tenham uma tolerância maior a
tratamentos como a quimioterapia, por exemplo.
Como ainda não
temos a regulamentação de seu uso, porém, a maioria dos
medicamentos derivados da erva precisam ser importados, como é o
caso do canabidiol, apresentando um alto custo para os pacientes, que
poderiam ter um tratamento muito mais acessível com a permissão das
pesquisas científicas e a produção medicinal no próprio país.
Tratando, por fim,
da produção industrial, muitos postos de trabalho poderiam ser
gerados com a exploração da planta, que é facilmente empregada na
produção de papel, tecidos, materiais de construção, combustível
e suplementos. O Brasil tem condições climáticas e solo ideais
para o cultivo do cânhamo industrial, sendo um dos mais fortes e
versáteis produtos agrícolas, usado em mais de 2.500 produtos e
subprodutos.
Registros históricos
informam que até as caravelas utilizadas por Pedro Álvares Cabral
tinham suas velas e cordames produzidos com fibras de cânhamo,
imaginem se o produto não era bom!
Edição de 23/09/2015 Ano VI nº 231
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