“Para
mudar o mundo, primeiro é preciso mudar a forma de nascer”. A
frase é do médico francês Michel Odent, que se tornou um símbolo
da luta pelo parto natural, junto a milhares de mulheres organizadas
pela humanização, protagonismo materno e respeito ao gestar e
parir, de acordo com suas escolhas.
O
movimento não é recente, mas ganhou força e visibilidade nos
últimos anos, quando os índices de cesáreas se tornaram alarmantes
em várias partes do mundo e, especialmente, em nosso país. O Brasil
vive, hoje, uma espécie de epidemia de partos com intervenções
cirúrgicas, que chegam a 40% na rede pública e a 84% na rede
privada, enquanto que a Organização Mundial de Saúde (OMS)
recomenda que essa porcentagem não passe dos 15%.
A
gravidade do problema levou, inclusive, o Ministério da Saúde a
adotar algumas medidas, que começaram a vigorar nesta segunda-feira
(06/07).
Com
a nova resolução da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS),
anunciada em janeiro, mas vigente a partir desta semana, as mulheres
poderão fazer o que é chamado de Plano de Parto e saber, com
antecedência, se o médico ou a maternidade escolhida tem mesmo
experiência em atender partos normais.
Outra
mudança importante é que o pagamento dos honorários do parto só
será liberado se o partograma - um documento gráfico no qual fica
registrada a evolução do parto e como ele ocorreu-, estiver
preenchido corretamente, ou seja, só depois de a mulher entrar de
fato em trabalho de parto.
Assim,
a ideia é que a cesárea só seja usada em casos de emergência,
quando o trabalho de parto começa. As operadoras de planos de saúde
só poderão realizar os pagamentos referentes ao parto com esse
documento em mãos. E os planos de saúde que não cumprirem essa
determinação serão multados em R$ 25 mil.
Para
a sociedade como um todo fica o cuidado redobrado para que o
partograma não seja forjado. Para evitar a alteração do documento,
a nova lei implantará, também, um plano de auditoria, para atuar na
fiscalização.
Trata-se
de um importante passo, mas seguimos na luta, ainda, por uma mudança
de ordem cultural, que nos leve à reversão das principais formas de
violência obstétrica e permita a construção de políticas
públicas efetivas, em prol do parto ativo e da humanização.
Isto
passa, principalmente, pelo empoderamento das mulheres, - que devem
ter acesso à informação e orientação durante todo o pré-natal,
para que suas decisões sejam respeitadas -, mas é importante
encarar e combater, também, a gigantesca indústria de cesarianas
que se instalou em nosso país, e os problemas por ela gerados, como
questões de saúde pública.
Para
melhor organizar a agenda, seguir atendendo com comodidade em seus
consultórios e obter uma maior remuneração, muitos profissionais
da área da saúde estão triplicando o risco de morte das mães e
aumentando em 120 vezes a probabilidade de os bebês nascerem com
problemas respiratórios, entre outras possíveis ocorrências,
ocasionadas por uma possível prematuridade.
Em
Jaguarão não é diferente e os dados também nos preocupam, pois,
em número aproximado, no ano de 2014 foram realizados na Santa Casa
166 partos cesáreos contra cerca de 130 partos normais, em uma média
proporcionalmente ainda maior que a nacional.
Vem
aí a 7ª Conferência Municipal da Saúde e uma excelente
oportunidade para, entre outros temas, discutirmos esta realidade!
Edição
de 08/07/2015
Ano VI nº 220
Nenhum comentário:
Postar um comentário