Encontrada em 2015 pela Unipampa, espécie dará informações sobre os ecossistemas em uma época anterior aos primeiros dinossauros. Trabalho foi publicado no britânico Scientific Reports
Uma espécie de réptil jamais
descrita pela ciência foi identificada por paleontólogos de
universidades brasileiras e do Reino Unido. O trabalho foi possível
após a descoberta de um fóssil de réptil que viveu há 250 milhões
de anos, encontrado no começo de 2015 pela equipe do
Laboratório de Paleobiologia, da Universidade Federal do Pampa
(Unipampa), no município de São Francisco de Assis, interior do Rio
Grande do Sul. O estudo foi publicado no periódico científico
Scientific Reports, do grupo Nature, nesta sexta-feira, 11 de março
de 2016. A nova espécie, identificada a partir de um crânio
bastante completo e bem preservado, foi batizada de Teyujagua
paradoxa.
De acordo com o professor da
Unipampa e coautor do trabalho, Felipe Pinheiro, a descoberta ajuda a
explicar a evolução inicial do grupo de animais que originou os
dinossauros, pterossauros, jacarés e aves. “O Teyujagua é bem
diferente de outros fósseis de mesma idade. Sua anatomia mostra que
este animal era um intermediário entre répteis primitivos e os
arcossauriformes”, conta ele.
Além do professor da Unipampa,
participaram do trabalho o professor da Universidade Federal do Vale
do São Francisco, Marco de França, os professores da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Marcel Lacerda e César Schultz, e o
docente da University of Birmingham, do Reino Unido, Richard Butler.
Segundo Pinheiro, a descoberta
de Teyujagua comprova que os arcossauriformes se tornaram
diversos após um grande evento de extinção em massa que ocorreu há
252 milhões de anos. “Esta extinção eliminou cerca de 90% de
todas as espécies de seres vivos, e foi desencadeada pelo efeito
estufa, causado por imensas erupções vulcânicas que ocorreram no
leste da Rússia. Depois da extinção, o planeta estava despovoado,
o que deu oportunidade para que alguns grupos de animais crescessem
em número e diversidade”, explica o professor. Ele ainda relata
que após essa diversificação inicial, os arcossauriformes se
tornaram animais dominantes nas faunas terrestres do planeta,
originando incontáveis formas carnívoras e herbívoras.
O nome do animal, Teyujagua,
significa “réptil feroz” na língua Guarani e faz referência a
Teyú Yaguá, um personagem mitológico indígena, representado por
um lagarto com cabeça de cachorro. “Ele era um animal pequeno,
quadrúpede, com cerca de 1,5 m de comprimento. Seus dentes curvados,
agudos e serrilhados indicam uma alimentação carnívora. As narinas
eram localizadas na parte de cima do focinho, o que é característico
de animais aquáticos ou semiaquáticos, como os jacarés atuais.
O Teyujagua provavelmente vivia às margens de rios e
lagos, caçando anfíbios primitivos e pequenos répteis parecidos
com lagartos, os procolofonídeos”, comenta o coautor do trabalho.
Os pesquisadores seguem as
escavações na localidade onde o Teyujagua foi encontrado,
recuperando novos fósseis. “Estas novas descobertas nos darão
informações sobre como eram os ecossistemas terrestres em uma época
anterior ao surgimento dos primeiros dinossauros e como as faunas se
recuperam após grandes extinções em massa”, justifica Pinheiro.
O trabalho completo pode ser
acessado no endereço www.nature.com/articles/srep22817.
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