Comecei a
filmar na partida, no dia 07 de junho, no aeroporto de Porto Alegre,
dois dias antes da abertura. Destino Ceará. Encontrei croatas,
japoneses, mexicanos e norte americanos e timidamente comecei a
penetrar na atmosfera de uma Copa do Mundo. Preferi registrar com o
olhar de um torcedor comum perdido numa multidão de turistas
futebolísticos e aproveitei a hospedagem fora do circuíto turístico
para possibilitar a inserção fundamental da inclusão da população
periférica ao espetáculo ao vivo, mas participativa pelo momento
histórico do seu país e do seu povo. Naquele momento único cada
dia entrava para a história e todas as populações em território
nacional viviam como protagonistas e coadjuvantes de um filme da vida
real.
Enquanto
intercalava os dias entre alguns recantos paradisíacos da imensa
orla cearense às margens de Fortaleza, populava também pelo entorno
frenético dos primeiros dia de Copa com uma multidão de fanáticos
no carnaval das Fan Fest para festejar o espetáculo do futebol
mundial. Na paz da jangada e o sol das 5 da manhã, o descanso entre
as infinitas dunas cearenses e a imensidão do mar nordestino, pude
contracenar, viver e registrar momentos únicos ao lado dos povos de
pequenas cidades e praias aos arredores da grande Fortaleza, seu
cotidiano, suas simplicidades e sua maneira de viver aquele momento.
Num raio de 100 quilômetros voltava para a loucura das quadrilhas do
templo Dragão do Mar e os arredores da praia de Iracema onde tudo
efervescia entre o futebol e o carnaval cultural do povo cearense.
Com essa
visão de cine cult, num âmbito aparentemente tão industrial e
globalizado, pude captar e participar, ao longo da viagem, momentos
paralelos que também contradiziam com o sucesso do evento.
Manifestações, regiões de pobreza, obras inconclusas, entre outros
aspectos também reais do país sede, contrastavam com o luxo e a
organização do torneio.
No cine
da vida real nos deparamos com curiosidades que nos fazem gostar cada
vez mais de fazer o que fazemos, seja no mundo turístico ou
profissional. Absorver a gama das nossas inúmeras culturas que se
entrelaçam não tem preço, tem um valor imensurável. Certa vez
numa outra viagem em visita a Salvador na Bahia, tive a oportunidade
de passar meus 30 dias num outro contraste genial, dias antes do
carnaval soteropolitano dividi minha estada entre o luxuoso Othon
Bahia Palace na orla da praia da Ondina e a Vila do ex-combatentes no
pé do morro. Pude então assistir essas duas realidades que me
proporcionaram uma experiência bem mais completa.
Termino a
crônica de hoje deixando as sábias palavras de um certo amigo meu
"tens que curtir tudo Vicente, um samba na laje, uma festa de
gala, uma trilha selvagem, um tour metropolitano, uma indiada..."
temos que dar valor máximo às experiências, mas de preferência
entortar as obviedades das coisas, pitar cult, sobrecarregar a
criatividade de quebrar as regras e ao mesmo tempo, num piscar de
olhos, voltar pra si.
Edição de 27/05/2015 Ano VI nº 214
Nenhum comentário:
Postar um comentário