Publicamente,
desde a adolescência, Eduardo Galeano mostrou sua veia aberta para o
socialismo.
Não
imaginaria ele a magnitude de sua essência, não imaginaria ele que
o mundo que criou para si, viria a atravessar uma metade de século,
como uma flecha atemporal que gravita em todo o globo, e no cintilar
da consciência de cada pensamento, sobre tudo, inventa um mundo
sonhador e astutamente íntegro de liberdades.
Um
intelectual, um ensaísta tenro, voraz, uma satírica e cuidadosa
maneira de escrever que uniam, Galeano, de seu mundo e para o mundo,
num dos historiadores mais incríveis que assomou a
contemporaneidade.
Para
Eduardo não houve fronteiras que o detivessem, atravessou oceanos e
desertos na magnifica arte de encurtar as distâncias através da
palavra.
Explicou
e foi o porta voz de inúmeras gerações de ativistas sociais, se
engajou em fazer frente às injustiças, com sua arma vital, jamais
letal, a palavra, a escrita, o sentimento, o pensamento.
Frequentou
problemáticas e dividiu visões políticas com escritores e
colaboradores daquela ilustre geração, Benedetti, Llosa.
Historiador e principalmente investigador nato, fez do seu jornalismo
um instrumento de coesão ideológica em meio a uma cultura de
domínio e barbárie que se escreve nas modernidades e antiguidades
da história.
Esteve
engajado na crítica inteligente em todos os períodos de sua
carreira, e mesmo sendo alvo da incoerência ditatorial dos anos 70,
soube, como muitos da sua época, reverter-se à sociedade livre como
um expoente, opinador do comportamento e de regras e padrões sociais
da nova era, pós ditadura.
Não se
absteve em nenhum momento importante da realidade política social da
América Latina, e incentivou a resistência e a luta das minorias.
Poetizou
felicidades e desgraças, desenhou nas estrelas um mundo visto de
cabeça para baixo, talvez mais divertido, contudo lúdico, louco,
atrevido.
Atravessou
etapas cruciais e dificultosamente diferentes no giro político e
social dos últimos 50 anos.
Homem do
mundo trazia consigo uma marca que o delatava como charrua, amava o
futebol, e como todas as coisas simples e populares falava dele como
ninguém, sabia ser uruguaio em qualquer parte do mundo e ao mesmo
tempo mundano em seu próprio país.
Eduardo
Galeano mais do que as veias tinha a mente aberta, mesmo preso foi
livre, encarcerado desamarrou as cordas da alma, e mesmo hoje, assim,
aparentemente ausente, sempre estará em nossa essência, indelével,
onipresente, um deus anônimo.
Edição
de 15/04/2015 Ano VI nº 208
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