Esses dias li uma frase
que me chamou muito a atenção, estava escrita em uma faixa de uma
Marcha de Mulheres da Amazônia, se não me engano, e dizia: “as
mulheres são como as águas, crescem quando se encontram”. Pura
verdade. E também dialoga muito com outra que diz que é fácil
reconhecer mulheres fortes, que são aquelas que buscam ajudar e
estar unidas a outras mulheres, ao invés de vê-las como inimigas.
Parece coisa simples,
mas para pôr em prática, se faz necessária a desconstrução de
tudo que nos é ensinado e incutido de diversas formas ao longo da
vida. A educação e a cultura em nossa sociedade, pautadas pelo
patriarcado, durante longa data nos ensinaram a competir e a ver em
outras mulheres adversárias. Na televisão, por exemplo, e
principalmente nas novelas, são corriqueiras as tramas e cenas em
que uma mulher “puxa o tapete” da outra, sente inveja, trai, fala
mal, chantageia e isso, infelizmente, faz parte da nossa formação.
Se as meninas crescerem buscando referências no que encontram neste
tipo de programação, dificilmente conseguiremos transpor estes
estereótipos que nos moldam e buscar coisas mais produtivas para
pensar e fazer.
Por este e outros
motivos, já faz muito tempo que lá em casa fechamos as portas para
a Rede Globo. Quem quer educar um filho ou uma filha tem que
entender, definitivamente, que a televisão não deve ser o membro
principal da família, como um dia nos disse Eduardo Galeano.
Precisamos ouvir uns aos outros, possibilitar momentos de encontro e
estarmos unidos e unidas em torno de questões que dizem respeito
diretamente à transformação das nossas vidas.
A semana passada foi
uma semana muito bacana neste sentido para mim, em que estive junto
com outras mulheres e aprendi muitas coisas. Aconteceu em nossa
cidade a 4ª Marcha e a Semana Binacional das Mulheres, com uma
programação diversificada que se estendeu de 08 a 13 de março, com
encontros, saraus, mostra de vídeos e outras atividades de formação.
Já faz quatro anos que
reconhecemos no Dia Internacional das Mulheres, em Jaguarão, uma
data de luta, e estamos em marcha nas ruas. Nos reunimos e levantamos
bandeiras e faixas em uma caminhada simbólica que faz parte da busca
pela garantia dos direitos e construção de mais espaços para as
mulheres, de forma posicionada contra toda forma de violência e
discriminação.
Este ano elegemos como
pauta principal a luta pela Reforma Política, que deve ser
construída com muito diálogo com a base e os movimentos sociais,
para mudar a cara dos Congressos e Assembleias, que são, em suma,
dominados por homens, brancos, representantes do empresariado, do
agronegócio e das bancadas evangélicas e, assim, muito pouco
representam nossos anseios, já que somos a maioria da população.
Não fomos para a rua
pedir o “Impeachment” da Presidenta Dilma, que tem muito mais a
cara de tentativa de golpe da direita insatisfeita com os resultados
das eleições, mas pautamos sim a necessidade de se acabar de uma
vez por todas com o financiamento empresarial e privado de campanhas,
que afasta e despolitiza as pessoas e transforma um espaço de
construção de direitos em um cenário de disputa econômica, que
têm desfavorecido a classe trabalhadora e os setores mais
vulneráveis da população.
Quero fechar este texto
dizendo que foi um imenso prazer contar com a participação, este
ano, de muitas mulheres uruguaias nestes movimentos, pois foi a
primeira vez que conseguimos fazer a semana com o formato binacional
e conhecer melhor a realidade das mulheres fronteiriças.
Por
aqui, a ordem do dia passou a ser “Si tocán a una, tocán a
todas!”. “Mexeu com uma, mexeu com todas!”
Edição
de 18/03/2015 Ano IV nº 204
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